quinta-feira, 6 de agosto de 2009

.InventáriO. (completo)

O amor de Amanda crescia a cada dia, embora tivesse aquele terrível medo de profundos enganos e ilusões. E sabia que Fernanda era uma mistura de tudo o que ela temia embora também uma mistura de tudo o que a dava prazer, de tudo o que a fazia sorrir, bom, só que isso ela também temia, então a balança nunca estava ajustada. Eram tantos meses de tudo e tantos meses de nada. O que pode pesar mais?
Era primavera e o sol no Leblon estava uns 40º, ainda sim, esses pensamentos noturnos cruzavam e atormentavam a mente de Amanda. Sentou no primeiro quiosque, observou a beleza do Rio e suspirou as cores do mar, das calçadas, dos asfaltos, das pessoas. Olhou um menino de rua, mais conhecido como pivete, e pensou egoistamente que talvez nem ele estivesse tão turvo e sem forças quanto ela; e sua reação imediata foi sentir medo; medo por não lembrar mais quem era antes de tudo começar, medo de cada dia mais perder sua cor. Ela costumava pensar que as cores é o que mais importa, e quando pensava em Fernanda não era mais tão colorido como antes. Não por falta de amor, mas o excesso dele, e de uma parte só, pensava. Disfarçou o choro com um óculos escuro e continuou observando o mar, tão calmo e pode matar. Fazia tempo que tentava cortar o laço, inventava e reinventava discursos frios que, quando encontrava Fernanda, não conseguia por para fora, sequer lembrava. Ela sentia cada vez mais sensações inéditas, não queria jogar pro ar o que, de certa forma, a fazia feliz. Mas a coisa já começava a ficar feia, ela nunca perguntava, apenas tirava conclusões de que Fernanda não se importava. E realmente, Fernanda sonhava com outro rosto, outro corpo, outra voz, e Amanda sentia a perda a cada dia. Levantou e continuou andando pelo calçadão e a cada gole na água de coco, sentia o gosto da ausência cada vez mais presente. De repente lembrou que era mais um dia daqueles, de mais um encontro casual que, até então, não tinha sido desmarcado. Foi para casa e os pensamentos continuavam ali. Lembrou de ter lido que se você pisca, quando torna a abrir os olhos o lindo pode ficar feio; resolveu não piscar ainda.
Tocou a campainha, o frio na barriga era o mesmo de sempre, como se fosse o primeiro encontro, e já eram tão intimas. E ali estava Fernanda, que a encantava a cada gesto, sua voz a fascinava. Vou sentir falta – pensou enquanto a ouvia contar sobre seu dia. Tudo que ela pensava o dia inteiro enquanto estava longe, tudo o que a atormentava desaparecia quando se encontravam. E tudo que parecia confuso na distância, pouco importava na intimidade das duas e nada parecia capaz de quebrar aquilo que fazia bem, que até se arriscavam a chamar de amor. Entre possessões e sorrisos incompreensíveis, procuravam sentido em um quarto ainda sem memórias, mas que passo a passo recompor-se-iam através das ânsias, tremores e tesões daqueles corpos. Mergulhavam no mais fundo, permitiam-se penetrar inteiramente uma na outra entre ruídos lentos de uma música e um amor sem medida e, que acabava sendo ignorado na distância.
Em meio de conversas, brincadeiras e risadas sem motivo, Amanda parou e olhou-a bem no fundo dos olhos e pensou – Eu te amo tanto. E repetiu em voz alta com os olhos ainda fixos nos outros olhos: Eu te amo tanto. Fernanda deu um sorriso de lado e disse que também a amava, um beijo aconteceu. Amanda sentiu-se triste e com aquela nuvem escura de fumaça e duvida sobre sua cabeça, sabia dos sentimentos de ambas como sabia que estava cercada por cigarros e mentiras também e pensou baixinho: - Você nunca será minha. E mesmo com ela nos braços, já sentia uma saudade irracional daquela voz, daquele corpo, de toda a intimidade que sabia que não teria com mais ninguém porque, na verdade não queria ter. Apertou-a com fome em seus braços enquanto tentava tirar coragem de qualquer parte. Antes que tudo ficasse feio e que a dor se transformasse em um veneno sem antídoto, respirou fundo, engoliu um saliva para amenizar aquele nó insuportável na garganta e falou quase sem coragem que aquele laço estava sendo cortado. Fernanda sabia que não tinha o direito de argumentar, disse que doía, mas não sabia como, disse que não queria a partida, mas que talvez não pudessem mesmo continuar mergulhando naquilo, na verdade, não sabia o que queria, sempre dizia que não tinha o direito de falar, mas acabava falando.
Amanda pegou suas coisas e pediu que a levasse até a porta, no caminho para casa foi pensando longamente nas duas, um amor assim tão delicado e desprezado, o nó continuava na garganta, segurava o choro e as pessoas em volta se quer desconfiavam daquele coração partido, mas ela também sabia que não podia mergulhar naquilo como sempre quis. Para ela, hoje seria uma de muitas madrugadas em que a gente deita feito um feto, chora sem remédio e se espreme como se as paredes do quarto estivessem se fechando em nós. Já Fernanda, voltou para a cama, deitou confusa e passou a mão direita sobre o lençol que carregava o cheiro, enfiou-a debaixo daquele travesseiro vazio ainda com a temperatura do corpo que ela, sentia quase matando, não teria mais. Um nó igualmente na garganta, um aperto no coração, um sentimento jogado para qualquer canto e um lágrima sobre um lençol que daqui a uns dias será lavado e um outro alguém jamais saberá do amor que esteve ali.




3 comentários:

  1. AMEI O QUE ESCREVESTE SO QUE O FINAL NAO FOI COMO EU PENSAVA SER. BJS

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  2. *-* inventário (completo). parte disso, me lembram coisinhas aki. hoho. *lindo como sempre* beijo xuh.

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  3. ´´Pra que este beijo agora?
    Por que meu amor esse abraço?
    Um dia você vai embora sem sofrer
    os tormentos que eu passo``(8)


    *lindo como sempre*[2]

    T&T

    Bjs

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